quinta-feira, 30 de junho de 2011

Vou-me Embora pra Pasárgada - Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

 
Texto extraído do livro "
Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90



Homenagem a minha mãe ANTONIA JOSÉ DA SILVA


Fragmentos

Isto não é um texto, é um amontoado de idéias.
Após a monarquia e a republica, finalmente chega a modernidade.
Toneladas de palavras.
Eu não fiz isto, e se o tivesse feito não seria arte.
Se eu soubesse não saberia nunca que sabia.
Não faço texto quando quero e sim quando ele vem para ser feito.

                                                             L.S.A

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pessoal., vocês são de uma criatividade invejável !!!
Alguns sonham com uma língua uniforme.
Só pode ser por mania repressiva ou medo da variedade, que é uma das melhores coisas que a humanidade inventou.
E a variedade linguística está entre as variedades mais funcionais que existem.

Sírio Possenti

O GIGOLÔ DAS PALAVRAS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção.
A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

Gramática - Luis Fernando Veríssimo

Pai...
- Hmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser "a sexa"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe. Porque não. "Sexo" é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer... Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculina seria "o pal..."
- Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos que ficar de olho nesse guri...
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pretérito de duas faces.

Agora, que de outro ângulo consigo, a olhos nus, rever tudo o que passamos, vejo que foi tudo exatamente como tinha que ser.
Na dose certa.
Fato?
Temos apenas um.
Opinião?
Temos duas.
Não quero saber da sua, nem mesmo da minha.
Apenas dos fatos.
                                                                                              L.S.A

Show da língua portuguesa!

  'Um homem muito rico estava  mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim:
             
'Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres. '
             
Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava a fortuna? Eram quatro concorrentes.
   
1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:          
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

  
2) A irmã chegou em seguida.. Pontuou assim o escrito:      
 Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

 3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:             
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta  interpretação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.


                                      Moral da história:

       'A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos sua pontuação.             

                          
               
E isso faz toda a diferença...
       
          

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Outras Palavras (...)

Posso te afirmar, com toda certeza, que nunca conseguirás vislumbrar todo meu interior, pois nem eu consegui tal façanha até os dias atuais (...)
                                                                                                                                                  L.S.A

terça-feira, 7 de junho de 2011

Palíndromo e Tautologia.

VOCÊ SABE O QUE É UM PALÍNDROMO?

Um palíndromo é uma palavra ou um número que se lê da mesma maneira nos dois sentidos, normalmente, da esquerda para a direita e ao contrário.

Exemplos: OVO, OSSO, RADAR. O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido:
SOCORRAM-ME, SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS.

Diante do interesse pelo assunto (confesse, já leu a frase ao contrário), tomei a liberdade de selecionar alguns dos melhores palíndromos da língua de Camões...

ANOTARAM A DATA DA MARATONA

ASSIM A AIA IA A MISSA

A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA

A DROGA DA GORDA

A MALA NADA NA LAMA

A TORRE DA DERROTA

LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL

O CÉU SUECO

O GALO AMA O LAGO

O LOBO AMA O BOLO

O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO

RIR, O BREVE VERBO RIR

A CARA RAJADA DA JARARACA

SAIRAM O TIO E OITO MARIAS

ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ


E sabe o que é tautologia?
É o termo usado para definir um dos vícios, e erros, mais comuns de linguagem. Consiste na repetição de uma ideia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. Mas há outros, como pode ver na lista a seguir:

- elo de ligação
- acabamento
final
- certeza
absoluta
- quantia
exacta
- nos dias 8, 9 e 10,
inclusive
- juntamente
com
-
expressamente proibido
- em duas metades
iguais

- sintomas
indicativos
- há anos
atrás
- vereador
da cidade
- outra alternativa
- detalhes minuciosos
- a razão é
porque

- anexo
junto
à carta
- de sua
livre
escolha
- superávit
positivo

-
todos foram unânimes
- conviver
junto

- facto
real
- encarar
de frente
- multidão
de pessoas
- amanhecer o dia
- criação nova
- retornar de novo

- empréstimo
temporário
- surpresa
inesperada
- escolha
opcional
- planejar
antecipadamente

- abertura
inaugural
- planejar antecipadamente
- abertura
inaugural
-
continua a permanecer
- a
última
versão definitiva
-
possivelmente
poderá ocorrer
- comparecer
em pessoa

- gritar
bem alto
- propriedade
característica
-
demasiadamente excessivo
- a seu critério
pessoal

- exceder
em muito



        Note que todas essas repetições são dispensáveis.

Por exemplo, 'surpresa inesperada'.

Existe alguma surpresa esperada?
É óbvio que não.
Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias.
Fique atento às expressões que utiliza no seu dia-a-dia.



Prof.. Pasquale Neto 





Vai dizer que você falava corretamente algum desses?



 No popular se diz: 'Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho carpinteiro'

Correto: 'Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro'

Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão.'
o correto é: ' Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão.'


'Cor de burro quando foge.'
O correto é:  Corro de burro quando foge!

Outro que no popular todo mundo erra:

'Quem tem boca vai a Roma.'
correto é:
'Quem tem boca vaia Roma.' (isso mesmo, do verbo vaiar).
 
Outro que todo mundo diz errado,
'Cuspido e escarrado'
- quando alguém quer dizer que é muito parecido com outra pessoa.
Este, eu acho, foi deturpado pelo minerim...
O correto é:
'Esculpido em Carrara.'
(Carrara é um tipo de mármore)


 Mais um famoso... 'Quem não tem cão, caça com gato.'
O correto é:
'Quem não tem cão, caça como gato... ou seja, sozinho!'


Texto repassado por e-mail.